O imaginário social, económico e cultural português sempre incluiu a apreciação de vinho. Porém, qual a história que o trouxe ao país?

Tudo começou com o Império Romano. Iniciando o seu domínio pela Península Ibérica a 218 a.C., o povo romano conquistou Cádiz a 206 a.C. e partiu para a restante conquista do litoral mediterrâneo. Após vários confrontos entre Lusitanos e Romanos, a 25 a.C. Emerita Augusta, atual Mérida, é tornada a capital romana da Lusitânia, o ‘ponto de encontro’ entre centenas de cidades transformadas em sedes de conventos (conventus iuridici), como Pax Iulia (Beja) e Scalabis (Santarém), ou importantes centros comerciais, como Balsa (Tavira), Olissippo (Lisboa) e Salacia (Alcácer do Sal).

As vilas romanas (villae) exercem uma forte influência nas alterações que o período da romanização traz aos territórios conquistados, não só através da valorização económica do solo, como de transformações socioculturais e de produção vinícola.

Com a constante sede de conquista, este Império foi também autor de diversas estradas romanas, utilizadas para a guerra, viagens e comércio, sendo, ainda atualmente, uma das heranças mais duradouras deixadas pela romanização.

O cursus publicus romanus consegue ser dividido em 3 variantes de vias terrestres: viae publicae, viae vicinale e viae privatae. As viae publicaes (também conhecidas como estradas públicas ou principais), foram construídas com o propósito de ligar zonas essenciais para o funcionamento da estrutura do Estado. Já as viae vicinales (estradas secundárias) conectavam as zonas rurais às estradas principais, povoamentos ou regiões agrícolas. Por fim, as viae privatae (ou agrari, caminhos privados) eram construídas pelos proprietários dos terrenos, com vista a melhorar a acessibilidade.

Os caminhos romanos costumavam ter marcos miliários, oferecendo estruturas com serviços de apoio e repouso (para os viajantes e animais). Nas regiões de Pax Iulia (Beja), Emerita Augusta (Mérida) e Ebora (Évora), dá para observar estas estradas com maior clareza.

Considerando que um dos principais objetivos das vias terrestres romanas era o comércio e transporte de mercadorias, é aqui que entra a produção de vinho, agora transportado para mercados distantes a menores custos.

Aliada à vertente de ordenamento do território, a cultura vínica romana também é muito inspirada no culto a Dionísio, deus mitológico do vinho e da ebriedade.

A importância da figura de Baco (o deus grego, mais tarde adaptado para Dionísio pelo povo romano) e do vinho, por associação, aumenta a partir do final do período republicano em Roma, de forma que se começou a gerar um particular interesse no culto deste deus, que se tornou uma figura-chave na sociedade romana.

Na província de Lusitânia existem, pelo menos, sete inscrições dedicadas a Liber Pater (outra nomeação para Baco) em Portugal e duas em Espanha, sendo que muitas das zonas onde foram encontradas se encontravam em produções de vinho. Crê-se que são epígrafes deixadas por antigos produtores.

Em Emerita Augusta (Mérida), a capital da Lusitânia romana, encontraram-se três lucernas em cerâmica fina, decoradas com temas dionisíacos. A utilização iconográfica de Baco ainda é bastante comum no Mediterrâneo romano, estando presente em mosaicos, por exemplo.

Da Era a.C. à atualidade, apesar das várias mudanças, o vinho e a sua cultura permanecem enraizados. Simbolizando o prestígio e o prazer, a experiência vínica distingue-se como um dos maiores elementos do processo da romanização na Península Ibérica.

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